O QUE É PRECONCEITO LINGUÍSTICO?

3.11.11

LITERATURA PARA ADOLESCENTES

A leitura dos clássicos: uma odisséia inebriante
Difícil falar em leitura de literatura, sem levar em conta as dificuldades encontradas por milhões de leitores quando se deparam com os grandes clássicos.
É muito comum ouvirmos falar da grandiosidade dos textos machadianos e da originalidade embrionária da prosa que com laborioso teor artístico teceu Guimarães Rosa. Contudo, a leitura dessas ricas pedras preciosas figura-se como um projeto utópico e meramente impossível quando pensamos nela enquanto projeto efetivo de todos os leitores.
É bem verdade que a escola, lugar observado como campo formador de leitores, contraditoriamente, tem se desviado constantemente desse papel formador, uma vez que, na maioria das vezes, tem trabalhado a leitura de obras literárias como pretexto para uma análise unicamente estrutural de estilo autoral e literário. Antes disso, a literatura deveria estar ocupando a vida do leitor pela sua função social primeira, a de libertar o andarilho que jaz a procura de uma porta, e mostrá-lo um horizonte que completaria a sua experiência empírica.
A imposição da leitura de um clássico, cuja linguagem parece destoante daquela que cerca trivialmente os nossos jovens, ao invés de libertá-lo pelo caráter embrionário que a tece, acaba por aprisioná-lo a uma caixa formatada, cuja área é menor que ele mesmo. Não obstante, isso não significa dizer que apenas a linguagem dos textos ditos contemporâneos poderia interessá-los. O diferencial está nos objetivos primeiros que devem ser apontados para a realização de uma obra seja do século IXI ou XX.
O caráter universal da literatura, o mesmo que permite ao leitor identificar-se com a incompatibilidade do mundo de Dom Quixote, e que permite o homem da cidade ver-se angustiado como o Fabiano de Graciliano Ramos permitirá que o leitor do século atual se identifique com a linguagem elaborada com que essas obras foram construídas.
O bloqueio não-aparente que paira sobre os adolescentes mediante os clássicos está subscrito nos objetivos que apontam para ele e divergem, de uma maneira ou de outra daqueles que ele mesmo vive a perseguir.
É preciso que o professor orientador de toda e qualquer leitura de caráter literário tenha junto a si a consciência de que é essa uma leitura diferenciada. A ela não deve ser conferido o caráter metodológico que se confere harmoniosamente ao texto científico que se encerra como recorte do mundo. A literatura, como Dirá Umberto Eco é tanto maior que a realidade, pois atribui a esta aquilo que de fato ela não tem. Isso acaba por colocar a obra de arte em um lugarzinho de abrigo do leitor que vive constantemente a procura de si mesmo. A partir daí, o leitor já encantado pela trama romanesca ou mesmo pelas aventuras atrapalhadas de um herói quixotesco, fará desse trajeto a mais esplendorosa odisséia, e por ela passeará sua fome de respostas. E ali, naquele mar de vocábulos rebuscados, o leitor encontrará o remo para travar uma viagem entre o real e o desconhecido, tendo como aliada  a necessidade de perder-se confuso, para depois tão acertadamente encontrar-se.

Angélica Guilherme


Nenhum comentário:

Postar um comentário