O QUE É PRECONCEITO LINGUÍSTICO?

10.11.11

PÓLO ESCOLA DESEMBARGADOR JOSÉ NEVES FILHO 15º ENCONTRO

PASSO A PASSO – 15º ENCONTRO – LÍNGUA PORTUGUESA
OBJETIVOS:
- Reconhecer a importância das Sequências  Didáticas para o ensino de Língua Materna;
- Compreender as etapas das SD;
- Analisar SD destinadas ao ensino e aprendizagem de conteúdos do componente LP;
- Organizar adequadamente SD envolvendo temáticas relevantes para o ensino de Língua Materna.

 

Leitura deleite - Um caso complicado



Pois é.
Cujo pai era amante, com seu alfinete de gravata, amante da mulher do médico que tratava da filha, quer dizer, da filha do amante e todos sabiam e a mulher do médico pendurava uma toalha branca na janela significando que o amante podia entrar ou era toalha de cor e ele não entrava.
Mas estou me confundindo toda ou é o caso de tão enrolado que se puder vou desenrolar. As realidades dele são inventadas. Peço desculpa porque além de contar os fatos eu também adivinho e o que adivinho aqui escrevo. Eu adivinho a realidade. Mas esta história não é de minha seara. É da safra de quem pode mais que eu.
Pois a filha teve gangrena na perna e tiveram que amputá-la. Essa Jandira de 17 anos, fogosa que nem potro novo e de cabelos belos, estava noiva. Mal o noivo viu a figura de muletas, toda alegre, alegria que ele não viu que era patética, pois bem, o noivo teve coragem de simplesmente desmanchar sem remorso o noivado, que aleijada ele não queria. Todos, inclusive a mãe sofrida da moça, imploraram ao noivo que fingisse ainda amá-la, o que - diziam-lhe - não era tão penoso porque seria a curto prazo: é que a noiva tinha vida a curto prazo.
E daí a três meses - como se cumprisse promessa de não pesar nas débeis idéias do noivo - daí a três meses morreu, linda, de cabelos belos, inconsolável, com saudade do noivo, e assustada com a morte como criança tem medo do escuro: a morte é de grande escuridão. Ou talvez não, não sei como é, ainda não morri, e depois de morrer nem saberei, quem sabe se não tão escura. A morte, quero dizer.
O noivo que se chamava pelo nome de família, o Bastos, ao que parece morava, ainda no tempo da noiva viva, morava com uma mulher. E assim com esta continuou, pouco ligando.
Bem. Essa mulher lá um dia teve ciúmes. E - tão requintada como Nelson Rodrigues que não negligencia detalhes cruéis. Mas onde estava eu, que me perdi? Só começando tudo de novo, e em outra linha e parágrafo para melhor começar.
Bem. A mulher teve ciúmes e enquanto o Bastos dormia despejou água fervendo do bico da chaleira dentro do ouvido dele que só teve tempo de dar um urro antes de desmaiar, urro esse que podemos adivinhar, era o pior grito que tinha. Bastos foi levado para o hospital e ficou entre vida e morte, esta em luta feroz com aquela.
A virago ciumenta pegou um ano e pouco de cadeia. De onde saiu para encontrar-se - adivinhem com quem? pois foi encontrar-se com o Bastos. A essa altura um Bastos muito mirrado e, é claro, surdo para sempre, logo ele que não perdoara defeito físico.
O que aconteceu? Pois voltaram a viver juntos, amor para sempre.
Enquanto isso a menina de 17 anos morta há muito tempo, só deixando vestígios na mãe. E se me lembrei fora de hora da mocinha é pelo amor que sinto.
Aí é que entra o pai dela, como quem não quer nada. Continuou sendo amante da mulher do médico que tratara de sua filha com devoção. Filha, quero dizer, do amante. E todos sabiam, o médico e a mãe da ex-noiva. Acho que me perdi de novo, está confuso, mas que posso fazer?
O médico mesmo sabendo ser o pai da mocinha amante de sua mulher cuidara muito da noivinha espaventada demais com o escuro de que falei. A mulher do pai, portanto mãe da ex-noivinha, sabia das elegâncias adulterinas do marido que usava relógio de ouro e anel que era jóia, alfinete de gravata de brilhante, negociante abastado, como se diz, pois as gentes respeitam e cumprimentam largamente os ricos, os vitoriosos, está certo? Ele, o pai da moça, vestido com terno verde e camisa cor-de-rosa de listrinhas. Como é que eu sei? Ora, simplesmente sabendo, como a gente faz com a adivinhação imaginadora. Eu sei, e pronto.
Não posso esquecer de um detalhe. É o seguinte: o amante tinha na frente um dentinho de ouro. E cheirava a alho, toda sua aura era puro alho, e a amante nem ligava, queria era ter amante, com ou sem cheiro de comida. Como é que eu sei? Ora, sabendo.
Não sei que fim levaram essas pessoas, não soube mais notícias. Desagregaram-se? pois é história antiga, e talvez tenha já havido mortes entre elas, as pessoas.
Acrescento um dado importante e que, não sei por que, explica o nascedouro maldito da história toda: esta se passou em Niterói, com as tábuas do cais sempre úmidas e escuras e suas barcas de vai-vém. Niterói é lugar misterioso e tem casas velhas, enegrecidas. E lá pode acontecer água fervendo no ouvido do amante? Não sei.
O que fazer desta história? Também não sei, dou-a de presente a quem quiser, pois estou enjoada dela. Demais até. Às vezes me dá enjôo de gente. Depois passa e fico de novo curiosa e atenta.
E só.

(Clarice Lispector)


in "Onde estivestes de noite" - 7ª Ed. - Ed. Francisco Alves - Rio de Janeiro - 1994








O que são seqüências didáticas?

As seqüências didáticas são um conjunto de atividades ligadas entre si, planejadas para ensinar um conteúdo, etapa por etapa. Organizadas de acordo com os objetivos que o professor quer alcançar para a aprendizagem de seus alunos, elas envolvem atividades de aprendizagem e avaliação.


As seqüências didáticas são usadas somente para o ensino de Língua Portuguesa?

Não. Podem e devem ser usadas em qualquer disciplina ou conteúdo, pois auxiliam o professor a organizar o trabalho na sala de aula de forma gradual, partindo de níveis de conhecimento que os alunos  já dominam para chegar aos níveis que eles precisam dominar. Aliás, o professor certamente já faz isso, talvez sem dar esse nome.

Professores,

Para realizar uma seqüência didática eficaz para o ensino de gêneros textuais, sugerimos:
·        Propor que seus alunos produzam uma escrita inicial, sem maiores estudos prévios, que permita a identificação do grau de conhecimento que eles já possuem.
·        Planejar o ensino considerando o conhecimento que os alunos já tem sobre o gênero
·        Fazer perguntas que problematizem os conteúdos a serem aprendidos com esse estudo, aproximando o que os alunos devem aprender das vivências que eles têm
·        Propor desafios que possam ser vencidos pelos alunos. Esses desafios não devem ser muito fáceis, nem muito difíceis.
·        Propor e incentivar o levantamento de hipóteses sobre os elementos do gênero estudo ( o conhecimento sobre o tema, sua forma própria de composição, seus elementos característicos), ouvir essas hipóteses e valorizá-las.
·        Ampliar a discussão sobre os aspectos do gênero, com finalidade de comprovar hipóteses levantadas
·        Organizar pesquisas sobre o tema do gênero, para favorecer o domínio do conhecimento necessário pelos alunos.
·        Dar informações sobre aspectos próprios do gênero em estudo.
·        Organizar e sistematizar as descobertas e conhecimentos, realizando uma escrita coletiva com você no papel de escriba da turma
·        Propor uma escrita individual a partir de um roteiro própria para o gênero
·        Orientar o aluno para a auto-avaliação de sua escrita (em seguida, veja o roteiro para o aluno realizar a autocorreção de um texto dissertativo)
·        Avaliar a escrita dos alunos e interferir quando necessário, para garantir a aprendizagem de todos, de acordo com as possibilidades de cada um.


Roteiro para o aluno realizar a autocorreção de um texto dissertativo-argumentativo

·        Colocou o leitor a para da questão a ser discutida?
·        Tomou uma posição diante desta questão?
·        Utilizou argumentos que possam convencer o leitor?
·        Usou expressões  que introduzem argumento (como, pois, porque, de acordo com, segundo, etc)
·        Utilizou argumentos de autoridade e/ou exemplo?
·        Usou expressões adequadas para introduzir a conclusão (então, assim, portanto, deste modo, etc)
·        Conclui o texto reforçando sua posição?
·        No final, fez uma síntese das idéias, reforçou a posição assumida?
·        Verificou se a pontuação está correta?
·        Lembrou-se de iniciar com letra maiúscula os nomes próprios, inícios de parágrafos ou em palavras que vêm depois do ponto final?
·        Corrigiu os erros ortográficos?
·        Escreveu com letra legível para que todos possam entender?


(Acessado em 14/09/2010)


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